terça-feira, 16 de março de 2010

MILK11 - Leite vitaminado

Negócio entre GP e Laep cria a quinta empresa em lácteos e deve ser apenas o primeiro do ano, que promete.

Leite vitaminado


    Por Alda do Amaral Rocha e Vera Brandimarte, de São Paulo
    16/03/2010
Te-

O negócio entre a Monticiano Participações , da GP Dairy, e a Laep, que cria a quinta maior empresa do setor de leite do país, é o primeiro movimento de consolidação no setor de lácteos em 2010, um ano que promete outras operações, segundo analistas do mercado.

Pelo acordo de investimentos, a Laep aportará os ativos de suas controladas Glória Alimentos e da Ibituruna (três fábricas e marcas), além da licença para uso da marca Parmalat até 2017, no capital da Monticiano, dona da Leitbom, em troca de uma participação de 40% das ações ordinárias da empresa.

Marcus Elias, presidente da Laep, ficará na mesma condição de outros acionistas e não participará da gestão da nova empresa. Majoritária na associação, a GP também será responsável pelo comando da companhia.

Os ativos da Parmalat Brasil, também controlada pela Laep e que está em recuperação judicial, não entraram no negócio. São eles as fábricas em Santa Helena de Goiás (GO) e Itaperuna (RJ). No ano passado, vivendo dificuldades financeiras e tentando vender ativos, a Laep concentrou na Glória e na Ibituruna os ativos adquiridos.

A operação, que cria inicialmente um consórcio entre Leitbom, Glória e Ibituruna, não envolveu dinheiro, de acordo com Fernando Falco, presidente da Leitbom e ex-diretor de lácteos da Vigor, empresa hoje nas mãos da JBS. O consórcio fará compra de matéria-prima e distribuição conjunta para as cinco fábricas da Leitbom (quatro em Goiás e uma no Pará) e as três da Glória e da Ibituruna, localizadas em Governador Valadares (MG), Guaratinguetá (SP) e Votuporanga (SP). A capacidade industrial das fábricas será compartilhada, permitindo ganho de escala e de eficiência, segundo as empresas.

Todas as unidades juntas terão uma captação de 2 milhões de litros por dia, o que coloca a Leitbom em quinto lugar no ranking dos laticínios do país (ver quadro). Em primeiro está a DPA, joint venture entre Nestlé e Fonterra, seguida da Brasil Foods e, empatados, Itambé e Bom Gosto, segundo estimativas das empresas.

Como em outras fusões, o negócio também está sujeito à aprovação dos órgãos reguladores.

De acordo com Falco, o consórcio colocará capital giro na operação. Nos últimos meses, com o agravamento de sua situação financeira, a Laep vinha tendo dificuldades de obter recursos para o dia a dia das operações por isso a ociosidade das unidades era muito elevada. "Com o consórcio, haverá capital de giro adequado", disse Falco, acrescentando que o "capital excedente" virá da Leitbom.

Na visão do executivo, a operação é vantajosa para o acionista minoritário da Laep porque existe um potencial de crescimento a ser explorado na nova Leitbom. Fonte próxima à Laep disse que "nada muda" para o minoritário. Assim como tem investimentos na Parmalat do Brasil, a Laep terá agora participação na Monticiano, diz, e a perspectiva é positiva já que esta tem uma "estrutura de capital mais adequada".

A GP, que controla a Monticiano, entrou em lácteos em abril de 2008 com a compra da goiana Laticínio Morrinhos, dona da marca Leitbom. Esta não é a primeira vez que a GP faz um negócio com a Laep: em setembro de 2008 comprou da empresa os ativos da marca Poços de Caldas e a licença da marca Paulista por 15 anos. A Laep os comprara havia apenas quatro meses da francesa Danone, mas teve de vendê-los pois as dificuldades financeiras começavam a se agravar.

A companhia, que abriu o capital em 2007 com planos ambiciosos de ser uma consolidadora no mercado de lácteos, acabou virando vendedora de ativos. Além da Poços de Caldas, a Laep vendeu em 2009 sua maior planta - em Carazinho (RS) - para a Nestlé e a de Garanhuns para a Bom Gosto.

A transação com a Monticiano não é uma solução apenas para a Laep, segundo fontes do mercado. A Leitbom também vinha enfrentando dificuldades. "Quando comprou a operação, a GP levou um corpo diretivo que tinha conhecimento relativo do setor", disse Fernando Falco, que assumiu o negócio no fim de 2009.

No acumulado do ano passado até setembro, a Monticiano obteve receita líquida de R$ 325 milhões, com margem bruta de 12% e margem operacional negativa em 17%.

Falco admitiu que "a rentabilidade da empresa não foi adequada inicialmente", mas agora a Leitbom já "consegue melhor rentabilidade" e o "caixa está levemente positivo". Para melhorar os resultados, a empresa mudou sua estratégia de vendas, antes mais pulverizada, explicou. A fusão com as empresas controladas pela Laep permitirá à Leitbom ampliar suas receitas, agregou. De janeiro a setembro, a Laep teve receita de R$ 657 milhões, com margem bruta de 16% e a operacional negativa em 14,4%.

No fato relevante divulgado para explicar o negócio, as empresas afirmam que o acordo assegurará para as subsidiárias da Laep, em igualdades de condições, a participação em qualquer evento de liquidez da Monticiano. Questionado sobre o tema, Falco tergiversou e disse que a GP investe em empresas onde pode agregar valor para depois vender a um investidor estratégico ou para abrir o capital.

No mercado há leituras divergentes. Alguns analistas acreditam que as aquisições da GP não devem parar por aí. Hoje, a Leitbom, sua controlada, tem em mãos marcas fortes, como a Poços de Caldas, que nunca chegou a ser explorada pela Danone, e a opção de uso da marca Paulista e da Parmalat, pelo menos até 2017, quando o contrato de licenciamento terá que ser renegociado com a Parmalat na Itália.

Para esses analistas, a empresa deve injetar dinheiro no negócio - como o fez em outros segmentos - para promover um crescimento rápido e abrir o capital da empresa para financiar uma expansão ainda mais vigorosa.

Mas outros especialistas no segmento de leite não descartam que a GP busca fazer a Leitbom ganhar músculo para vendê-la no futuro.

No mercado a reação foi positiva para os papéis da Laep, ainda que exageros tenham sido corrigidos no fim do dia, já que o negócio não prevê aporte de recursos. As units chegaram a subir 20,6%, mas fecharam com alta de 4,84%, a R$ 1,73. O giro foi de R$ 357 milhões. A leitura é que a Laep passou da condição de doente que definhava a cada dia para a de uma empresa com perspectivas. (Colaborou Fernando Torres)



http://www.valoronline.com.br/?impresso/investimentos/91/6158376/leite-vitaminado&scrollX=0&scrollY=2092&tamFonte=

Nenhum comentário:

Postar um comentário