segunda-feira, 22 de março de 2010

MILK11

O que está por trás do negócio GP-Parmalat

Ponto um: a empresa de leite, que enfrentava dificuldades, foi salva por um grupo de financistas. Ponto dois: com a marca italiana, a GP poderá também salvar sua própria operação de laticínios

Por Nicholas Vital

Domingo, 14 de março. O relógio na parede do escritório da GP Investimentos, na avenida Faria Lima, em São Paulo, marcava nove horas da noite quando Fersen Lambranho, presidente do grupo, e Marcus Elias, sócio da Laep, controladora da Parmalat no Brasil, terminaram de revisar os contratos e começaram a assinar os documentos para a formação de um consórcio no setor de leite.

"Mudamos de rota e buscamos uma saída engenhosa"
Marcus Elias > presidente da Laep

As negociações começaram em setembro do ano passado, foram atropeladas pela entrada de outros pretendentes, como Friboi, Marfrig e Brasil Foods, mas foram concluídas no último fim de semana. E o casamento, costurado pelo advogado Paulo Aragão, um dos maiores especialistas em direito societário do País, acabava de criar uma das mais promissoras empresas de leite no Brasil, com receita estimada em R$ 1,5 bilhão e captação de mais de dois milhões de litros ao dia. Elias e Lambranho se abraçaram e passaram a preparar o fato relevante que seria divulgado ao mercado no dia seguinte.

“Agora temos uma marca com presença e credibilidade nacional”, disse à DINHEIRO o executivo Fernando Falco, presidente da Monticiano, braço do grupo GP no setor de leite. A declaração do executivo revela que a fusão foi muito mais do que um negócio de oportunidade para a GP. Maior fundo de private equity da América Latina, com mais de US$ 4 bilhões aportados em empresas de diferentes setores no Brasil, o grupo se especializou em comprar companhias em dificuldades para recuperá-las e depois revendê-las.

Mas, no caso da Parmalat, a compra é também uma necessidade para a GP. O fundo entrou no mercado de leite em 2008, quando pagou R$ 308 milhões pelos ativos da Laticínios Morrinhos, de Goiás, dona da marca Leitbom. Os planos eram ambiciosos, mas esbarraram em uma crise generalizada no setor.


"Agora temos uma marca com presença e credibilidade nacional"
Fernando Falco > presidente da Monticiano

Os negócios também não foram bem em 2009. Nos três primeiros trimestres do ano passado, a Monticiano acumulou prejuízo líquido de R$ 36,3 milhões. Diante das dificuldades, os executivos perceberam que, para crescer, precisariam de uma grife para agregar valor aos seus produtos – e não partir para uma guerra de preços suicida, como fazem muitos de seus concorrentes. Com a Parmalat, que há 12 anos é a marca top of mind no Brasil (a mais admirada pelos consumidores), a GP poderá vender leite convencional com uma margem até 15% superior à dos concorrentes.

“Não dá nem para comparar a Leitbom com a Parmalat. O GP vai investir em uma marca de primeira linha para aumentar sua participação no mercado”, diz Jorge Rubez, presidente da Leite Brasil, principal entidade representativa do setor. “Agora sim eles estão entrando no jogo.”

Pelo acordo, a Laep, de Marcus Elias, aporta no capital da Monticiano as fábricas das empresas Glória e Ibituruna, além do direito de exploração da marca Parmalat até 2017. Em troca, ganha 40% de participação na Monticiano. Elias, que pretendia ser um consolidador no mercado, mudou de rota quando percebeu que a Parmalat estava mais para caça do que para caçador.

A empresa não teve acesso a linhas de crédito do BNDES, foi alvo de uma operação da PF e enfrentava problemas com a recuperação judicial. Mas também cometeu erros de gestão, como excesso de aquisições, sem uma estratégia definida. “Mudamos de rota e buscamos uma saída engenhosa”, disse Elias à DINHEIRO. “Agora, o mercado terá uma empresa sem problemas de crédito, com a marca mais valiosa do setor.”

A associação entre Monticiano e Parmalat formará o quinto grupo do setor, atrás de Nestlé, Brasil Foods (dono da Batavo), Itambé e Bom Gosto. Mas a empresa espera ampliar sua participação de mercado – hoje próxima a 10% – lançando leites com maior valor nutricional e pagando mais aos fornecedores. “Com o dinheiro da GP e a credibilidade da Parmalat, a parceria tende a elevar a renda no campo”, prevê Rafael Ribeiro de Lima Filho, da Scot Consultoria.

A gestão do novo negócio ficará a cargo do grupo GP e a Laep terá alguns assentos no conselho. Embora a operação marque um revés na estratégia inicial traçada por Elias, as ações de sua empresa estiveram entre as que mais subiram no Brasil em 2010 – passaram de pouco mais de R$ 0,70 para R$ 1,70 –, em razão dos rumores sobre uma possível venda.

As dívidas da companhia foram reduzidas de R$ 1,8 bilhão para R$ 22 milhões. Para reduzir o endividamento, ele vendeu ativos, como a fábrica de Carazinho, que foi alienada à Nestlé, e algumas marcas, como a Poços de Caldas e a Paulista, que foram transferidas à própria GP, um ano atrás. A última pendência era uma fábrica em Goiás, que vinha atrasando pagamentos aos pecuaristas – ela será agora arrendada à empresa Italac. “Os problemas acabaram”, diz Elias. Budista, ele recentemente ergueu um grande templo na cidade de Campos do Jordão, no interior de São Paulo, onde poderá meditar sobre sua experiência no mercado de leite e seus futuros negócios.

http://www.istoedinheiro.com.br/noticias/17192_O+QUE+ESTA+POR+TRAS+DO+NEGOCIO+GPPARMALAT


Nenhum comentário:

Postar um comentário